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quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Santa Ceia: vinho ou suco de uva?



Santa Ceia:  Pão e... Vinho?



O que é vinho?
R= Vinho (do latim: vinu) - Líquido alcoólico, resultante da fermentação parcial ou total do mosto da uva ou ainda de outras frutas.

Suco de uva: caldo não fermentado, com propriedades nutritivas, que se extrai do fruto da videira por meio de pressão, sucção ou outro processo.

Há séculos que recebemos um legado da Igreja Romana: chamar o segundo elemento da Santa Ceia de “vinho”.
É costume secular a igreja romana usar o vinho e a hóstia[1] na celebração do sacrifício da sua missa[2] e como repetição da Santa Ceia. Normalmente, somente o sacerdote “romano” toma o vinho junto com a hóstia, e os demais participantes, somente comem da hóstia, pois lhes é vetado beberem do “sangue de Jesus”.[3] Segundo a teologia católica, no momento em que os elementos são consagrados, acontece a transubstanciação, ou seja, a transformação real da substância do pão (hóstia) e do vinho na substância do corpo e sangue de Cristo. Assim sendo, segundo a Igreja Católica Romana, o sacrifício de Jesus Cristo é repetido “literalmente” em qualquer lugar, a cada missa celebrada, contrariando a Palavra de Deus que diz que o sacrifício de Cristo foi efetuado uma só vez e não pode ser repetido:

Hebreus 9:
24- Porque Cristo não entrou em santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo céu, para comparecer, agora, por nós, diante de Deus;
25- nem ainda para se oferecer a si mesmo muitas vezes, como o sumo sacerdote cada ano entra no Santo dos Santos com sangue alheio.
26- Ora, neste caso, seria necessário que ele tivesse sofrido muitas vezes desde a fundação do mundo; agora, porém, ao se cumprirem os tempos, se manifestou uma vez por todas, para aniquilar, pelo sacrifício de si mesmo, o pecado.
27- E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo,
28- assim também Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação.

Por essa razão, os reformadores, ao restaurarem o verdadeiro significado da Santa Ceia, no ocidente, ou seja, que esta é somente um memorial e um anúncio da “morte do Senhor até que ele venha” (1Co. 11:26), conservaram o vinho e acrescentaram o pão, dando estes elementos aos participantes. Posteriormente, algumas igrejas evangélicas começaram a substituir o vinho pelo suco de uva, ou por questão econômica (a princípio), ou por questão didática e/ou religiosa, ou seja, pelo fato de pregarem a total abstenção de bebidas alcoólicas, pois alguns de seus adeptos, anterior à sua conversão, eram alcoólatra, não podendo ingerir nem uma gota de bebida alcoólica, com risco de uma “recaída”.
Alguns até ensinam que havia diferentes tipos de vinho no Novo Testamento e que o vinho transformado da água por Jesus não era alcoólico, mas suco de uva, diferente do vinho fermentado usado na época, pois está escrito: “Não vos embriagueis com vinho no qual há dissolução...” (Ef 5:18a)
Essa é uma opinião piedosa, com vista à abstinência, mas a mesma palavra  grega usada para vinho em Lucas 1:15, a respeito de João Batista, é a mesma para a transformação da água em vinho, (Jo 2:3-10) ou seja οινος (oinos)[4] e não “suco simples de uva”, pois ‎‎embriagava (Efésios 5:18).
Realmente, a ordem é: "E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito. (Efésios 5:18)
Então a pergunta: Além do pão, qual foi o principal elemento líquido usado por Cristo em sua última ceia?

Todos os quatro evangelhos e a Primeira Carta do Apóstolo Paulo aos Coríntios (cap. 11:23 ss) fazem referência a somente dois elementos: O PÃO E O CÁLICE (COPO), onde os Evangelhos dizem conter do FRUTO DA VIDEIRA.
O fruto da videira, depois de prensado ou liquefeito, tira-se primeiro o suco e este, depois de fermentado transforma-se em vinho.
Mas ao celebrar a Santa Ceia o Senhor usou o suco puro ou o vinho (suco fermentado)?
Com toda a certeza foi o suco puro, ou seja, não fermentado (vinho).
Eis as razões para tal afirmação:

1.     Os Evangelhos não falam que foi vinho (embora não fale que foi  suco), mas simplesmente que foi o fruto da videira (embora ambos, suco e vinho sejam derivados deste). A tradição de chamarmos o segundo elemento da Ceia de “vinho” foi herdada da Igreja Católica Romana, como foi dito no início;
2.     Nenhuma passagem da Bíblia relaciona o vinha à Páscoa. Eis os elementos da páscoa judaica:
a)      Um cordeiro ou um cabrito sem defeito, macho de um ano, (Ex. 12:5) assado no fogo (versos 8 e 9);
b)      Pães asmos (ou seja, não levedado, sem fermento);
c)      Ervas amargas (v 8);
3.     É costume dos judeus praticantes da sua religião de se absterem de qualquer bebida alcoólica pelos sete dias da Páscoa pelo fato de o álcool ser o resultado da fermentação do fruto que lhe deu origem, e no caso do vinho, como foi dito, ser resultante da fermentação do sumo das uvas. Este é um costume milenar judaico derivado de Êxodo 12, conforme podemos ler das palavras do Senhor:
v. 15 – “Sete dias comereis pães asmos. Logo ao primeiro dia, tirareis o fermento das vossas casas, pois qualquer que comer coisa levedada, desde o primeiro dia até ao sétimo dia, essa pessoa será eliminada de Israel.
v. 19 – “Por sete dias, não se ache nenhum fermento nas vossas casas; porque qualquer que comer pão levedado será eliminado da congregação de Israel, tanto o peregrino como o natural da terra.
v. 20 – “Nenhuma coisa levedada comereis; em todas as vossas habitações, comereis pães asmos.

Pelo fato de que o Senhor, ao referir-se à semana da Páscoa, falou que “qualquer que comer coisa levedada, desde o primeiro dia até ao sétimo dia, essa pessoa será eliminada de Israel”, os judeus também se abstêm, nessa semana, de beber qualquer bebida levedada (fermentada), incluindo-se aí também o vinho.
Assim sendo, o Senhor Jesus ao celebrar a primeira Santa Ceia juntamente com seus discípulos, como um memorial de Sua morte “até ele venha” (1Co. 11:26), a celebrou “no primeiro dia da Festa dos Pães Asmos”, ou seja, na semana da Páscoa, após a celebração desta (Mat. 26:17-19, 26-30). Ora foi neste momento que eles beberam do “fruto da videira”, e certamente não foi vinho (alcoólico fermentado), mas o suco, segundo a tradição judaica, nesta época. É por esse motivo que os evangelistas não citam a palavra vinho (gr.: αινος = oinos) ao relatarem os acontecimentos da Santa Ceia, pois o Senhor não usou esta palavra (nem esta bebida) nesta ocasião, embora não fosse abstêmio. (Mat. 11:19 ou Luc. 7:34)
Pelo fato de o Senhor Jesus ter comido, na Páscoa e na Santa Ceia o pão asmo (isto é, sem fermento), devemos também comê-lo sem fermento, todas as vezes que celebramos a Ceia do Senhor? Certamente que não, pois o Senhor usou o único tipo de pão que havia no momento: o da Páscoa. Nós estamos na Nova Aliança (ou: Novo Pacto, Novo Concerto, Novo Testamento = gr.:  Kainê Diathekê), ou seja, seguimos uma Nova Constituição, e esta só exige que Celebremos a Santa Ceia comendo do pão (não diz que tipo) e a seguir bebendo do cálice (lat.: calix = copo, taça – gr.: ποτηριον = potêrion), que contêm a bebida do fruto da videira  (Mat. 26:26-29;  Mar. 14:22-25;  Luc. 22:19-20;  1Co. 10:16, 21;  11:25-28), que pode ser em forma de suco ou o vinho, embora não necessariamente.


Em Cristo: Luís Antônio Lima dos Remédios – IPM




[1] Hóstia - s. f. 1. Partícula circular de massa de trigo sem fermento, que o sacerdote consagra na missa. 2. Rel. ant. Animal imolado no sacrifício; vítima. (Dicionário Eletrônico Michaelis, versão 4.0 – grifo nosso)
[2] Missa - Cerimônia eucarística, com que a Igreja Católica representa como uma repetição do sacrifício de Jesus Cristo.
[3] Antigamente todos participavam da hóstia e do vinho da seguinte forma: o sacerdote católico molhava a hóstia no vinho do cálice e dava aos participantes da sua chamada “eucaristia”. Mas, depois, alguém notou que este gesto repetia ao que Cristo usou para indicar o traidor (Jo. 13:21, 26).  Assim sendo, esta prática de molhar a hóstia foi abolida e o sacerdote romano passou a dá-la sem o vinho.
[4] A palavra grega οινος (oinos) é de origem semita aparentada com a hebraica  יין (yayin) que procede de uma raiz não utilizada significando “enferver”, tendo o mesmo significado da palavra aramaica para vinho, ou seja, חמר / ܚܡܪ (hhamar) - Conf. Daniel  5:1,2, 4, 23.




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𝓛𝓾𝓲𝓼 𝓐𝓷𝓽𝓸𝓷𝓲𝓸 𝓒𝓪𝓬𝓮𝓻𝓮𝓰𝓮✍️ܠܘܝܣ


Por: Luís Antônio Lima dos Remédios - Luís Cacerege - ܠܘܝܣ

 

cacerege@gmail.com

Manaus - Amazonas - Brasil

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Obs.: É permitido a cópia para republicações, desde que cite o autor e as respectivas fontes principais e intermediárias.

 

 

Por: Luís Antônio Lima dos Remédios

 

Luís - ܠܘܝܣלואיס - 𐤋𐤅𐤀𐤉𐤎 - Ⲗⲟⲩⲓⲥ - Λουίς

 

 

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5 comentários:

Rodrigo Antônio disse...

O propósito da celebração da santa ceia e para memória da sacrifício de Cristo, porém devemos tomar cuidado pois é uma celebração sagrada e os itens utilizados devem ser para o agrado de Deus e não dos homens. Não podemos esquecer que o pão sem fermento representa o próprio Cristo sem pecado e o cálice representa o sangue de Cristo. Lembre-se: "Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais morte do Senhor, até que ele venha."1Co11:26
"Portanto, quer comais, quer bebais ou façais qualquer coisa, fazei tudo para a glória de Deus." 1Co10:31

Unknown disse...

E o que dizer da ceia celebrada na igreja de Corinto? Diz-se que lá os irmãos ficavam até embriagados durante a eucaristia! Paulo condena a embriaguez deles, mas não mandam que substituam o vinho pelo suco; diz apenas que quem quiser beber muito muito, que beba em casa.

Luís Antônio - Cacerege disse...

Sobre a igreja de Corinto onde aslguins se embriagavam, é certo que eles usavam o vinho mesmo, daí alguns pecarem por embriaguez. Quando o Senhor disse "fruto da videira" não especificou que tipo de bebida era, se suco ou vinho. Mas na primeira ceia celebrada pelo Senhor, como eu disse, certamente não era bebida fermentada, pois a ocasião não a permitia, por ser época da Páscoa.

Unknown disse...

Parabéns pelo blog!

Excelente e muito esclarecedor.

Shalom U"Vrachôt


Ferreira

Unknown disse...

Gosto muito dos seus trabalhos.
Parabéns!