Não só na Peshitta, mas também nos manuscritos Siríaco Sinaitico e Siríaco Curetoniano temos a palavra grega παράκλητος transliteradas na forma enfática como ܦܵܪܲܩܠܹܝܛܵܐ (or.: pārāqleṭā) / ܦ݁ܰܪܰܩܠܺܛܳܐ (oc.: paraqliṭō):
Resumo:
Oriental: ܦܵܪܲܩܠܹܝܛܵܐ (pāraqlēṭā)
Ocidental: ܦ݁ܰܪܰܩܠܺܛܳܐ (paraqlīṭō)
פַּרַקלִטָא
Grego: παράκλητος (paráklêtos)
d) A palavra ܐܹܘܟ݂ܵܪܸܣܛܝܼܵܐ / אֵוכַרִסטִיָא (’eukharisṭiyā’ ou ’eukharisṭiyō’) na
Peshitta é mais uma prova da influência do Novo Testamento grego na comunidade
síria, pois o termo “eukharistia” era de uso comum na comunidade
cristã de fala grega, originado do NT grego que influenciou outras comunidades:
“E eles foram fiéis
na doutrina dos apóstolos, e participando na oração e no partir da eucaristia ( ܐܹܘܟ݂ܵܪܸܣܛܝܼܵܐ = ’ewḳarisṭiyā’ ).” - Atos 2:42
Mateus
26:27 - “E Ele tomou o cálice e, tendo dado graças (ευχαριστησας = EUKHARISTĒSAS
[EFKHARISTISAS]), o deu aos discípulos, dizendo: Bebei dele todos”. Também:
Marcos 14:23; Lucas 22:19 e 1 Coríntios 11:24.
Mesmo
em grego moderno o termo continua sendo usado como nome da Santa Ceia:
ευχαριστια (pron.: EFKARISTΙΑ) e como principal palavra para
agradecimento: ευχαριστω (pron.: EFKARISTŌ = obrigado, agradeço).
Resumo:
Oriental: ܐܹܘܟ݂ܵܪܸܣܛܝܼܵܐ (ᵓewkharīsṭīa)
Ocidental: ܐܶܘܟ݂ܰܪܺܣܛܺܝܰܐ (ᵓewkharīsṭya)
אֵוכַ̅רִסטִיַא
Grego: εὐχαριστία (eukharistía)
e)
A palavra grega αἱρέσεις (HERÉSIS
= herético, sectário, faccioso) também foi transliterada literalmente na
Peshitta como ܗܹܪܹ̈ܣܝܼܵܣ
/ הֵרֵסִיס (heresiyas = heresia, seita) e aparece uma única
vez em 2 Pedro 2.1: “Mas
houve também falsos profetas entre o povo, como também os falsos mestres
estarão entre você, que vai apresentar as heresias (αἱρέσεις = hairéseis, herésis) de destruição e negar
o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição.”
f) E em Tito 3:10 temos um derivado da
palavra grega αἱρετικὸς (HERETICÒS = herético, sectário,
faccioso): ܗܲܪܲܣܝܘܿܛܵܐ
/ הֵרֵסִיַוטָא (harasiyōṭā’ / heresiyawṭō’): “Do homem herege, depois de uma e duas vezes
admoestá-lo, retira-te.”
Resumo:
Oriental: ܗܹܪܹ̈ܣܝܼܵܣ
(heresīas)
Ocidental: ܗܶܪܶܣܺܝܣ (heresīs)
הֵרֵסִיס
Grego: αἵρεσις (heresis)
g) Nomes latinos com declinação grega
são usados na Peshitta aramaica, como por exemplo, Áquila: ܐܵܩܸܠܘܿܣ
/ אַקֵלָוס
(’aqilō̕s / ’aqelāws). Ora, o nome Áquila é latino, e
significa “águia”, mas o idioma grego precisa, na forma masculina, acrescentar
o “Σ” (sigma) no final de uma palavra masculina no nominativo, e que, no caso
da palavra “Áquila” sem o “S” final seria interpretado como feminina. Mas o
nome original latino é “Aquila” e não teria motivos de a Peshitta acrescentar o
“S” final da declinação grega, se não fosse tradução da mesma, mesmo adaptando
a pronúncia ao siríaco. Ver tradução da vulgata em Atos 18.18:
“Paulus vero cum adhuc
sustinuisset dies multos fratribus valefaciens navigavit Syriam et cum eo
Priscilla et Aquila qui sibi totonderat in Cencris caput habebat enim
votum”.
Resumo:
Oriental: ܐܵܩܸܠܘܿܣ
(ᵓāqilōs)
Ocidental: ܐܰܩܶܠܳܘܣ (ᵓaqelōws)
אַ֣קֵלָוס֖
Grego: Ἀκύλας (Akýlas)
h) Pedro - Embora o nome de Simão Bar-Jonas (בַּר־יוֹנָה [BAR YONAH] = filho de Jonas - Mat. 16:17 - ou João -
Jo.1:42 - variante grega) tenha sido mudado pelo Senhor Jesus para o nome
aramaico: כֵּיפָא [KEFA’] = pedra - o NT
grego registra esse nome conforme a regra para palavras masculinas que devem
terminar em Σ (Sigma), ou seja: Κηφᾶς (Kēfas - Jo. 1:42; 1Co. 1:12; 3:22; 9:5;
15:5; Gl. 1:18; 2:9, 11, 14), o Novo Testamento grego, na maioria das vezes
(mais de 150) trás seu nome em grego mesmo, ou seja: Πετρος (Petros) que
aportuguesado é Pedro. Como a Peshitta foi escrita em aramaico-siríaco,
é normal trazer seu nome em siríaco mesmo, ou seja: כִּאפָא (Kifa’). Mas há três exceções na Peshitta, onde o nome de Pedro
aparece com a pronúncia grega mesmo: em Atos 1:13, e na introdução de suas duas
epístolas: 1ª Pedro 1:1 e 2ª Pedro 1:1, com a forma: פֵּטרָוס /
ܦܸ݁ܛܪܘܿܣ (Peṭrōws, Peṭrūs). Assim sendo,
temos a prova que também as duas epístolas de Pedro foram originalmente
escritas em grego, pois todos os leitores da língua original da Peshitta chamam
as epístolas de ܐܓܪܬܐ ܕܦܛܪܘܣ ܐ (’Egarta d'Peṭrūs A) e ܐܓܪܬܐ ܕܦܛܪܘܣ ܒ (’Egarta d'Peṭrūs B).
Resumo:
Oriental: ܦܲܛܪܘܿܣ (Paṭrōws)
Ocidental:ܦ݁ܶܛܪܳܘܣ (Peṭrōws)
פֵּ֣טרָוס
Grego: Πέτρος (Pétros)
i) A palavra grega para BISPO
é επισκοπος (EPISKOPOS) que significa literalmente:
"superintendente", "supervisor". Nos textos em que esta
palavra grega aparece, geralmente a Peshitta verte por ܩܲܫܝܼܫܵܐ / קַשִׁישָׁא (qashiyshō’ / qashiyshā’) que significa
"an
cião", "presbítero" (1Tm 3:2; Tt. 1:3), e verte por ܣܵܥܘܿܪܵܐ / סָעֻורָא (sō‛uwrō’ / sā‛uwrā’) = "inspetor', "bispo", em 1Pd 2:25, ao se referir ao
Mashiahh. Mas curiosamente há um caso em que o tradutor da Peshitta não
traduziu a palavra grega no plural επισκοπους (EPISKOPOUS), mas a transliterou por ܐܸܦܹ݁ܣܩܘܿܦܹ݁ܐ / אֵפִּסקָופֵּא (’episqōwpē’), em sua forma grega adaptada. O texto
encontra-se em Atos 20.28:
“Cuidai, pois, de vossas almas
e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito de Santidade vos constituiu episcopos,
para alimentar a Congregação de Deus que ele adquiriu com seu sangue.”
Resumo:
Oriental: ܐܲܦܸܣܩܘܿܦܐ (ᵓapisqōpā)
Ocidental: ܦܐܐܶܦ݁ܺܣܩܳܘ (ᵓepisqōwpō)
אֵפִּסקָופָּא
Grego: ἐπίσκοπος (epískopos)
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j) Estranhamente a Peshitta translitera a palavra grega νόμος (nómos) em quase todas as suas ocorrências por ܢܵܡܘܿܣ /נָמוּס (nāmōs / nōmūs) ou pela enfática* ܢܵܡܘܿܣܵܐ
/ נָמוּסָא (nāmōsā’ / nōmūsō’), no lugar de usar a palavra aramaica אוֹרָיתָּא (’orāytā’) enfática de אוֹרָאָה (’orā’āh) que é a palavra exata em aramaico que corresponde à palavra
hebraica תּוֹרָה (Torah/Torá). Essa
é mais uma prova de que a Peshitta é uma obra tipicamente cristã de influência
grega, pois um judeu, mesmo cristão, jamais colocaria nas Escrituras Sagradas uma palavra grega no
lugar de uma palavra tipicamente semita correspondente à nossa palavra “Lei”. (*) A forma
enfática é definida pelo acréscimo da letra ܐ alap no
final de uma palavra. Ela define a palavra, ou seja, funciona como um artigo
definido.
Ocorrências da palavra ܢܵܡܘܿܣ (nāmōs): 1Co. 9:21; 2Ped. 2:8; 3:17, e da sua enfática ܢܵܡܘܿܣܵܐ (nāmōsā’ / nōmūsō’) na Peshitta:
Mt. 5:17, 18; 7:12; 22:35; Lc. 2:22; 5:17; 16:16,17; Jo. 7:19, etc.
Somente em Mattai
(Mateus) é usada a expressão semita אוֹרָיתָּא (’orāythā’) por três vezes
(11:13; 12:5 e 22:40), mas a expressão grega NOMOS nesse livro é
usada por cinco vezes: 5:17 e 18; 7:12; 22:35 e 36
A palavra grega NOMOS, na Peshitta, está assim
distribuída entre absoluto, enfático e com prefixos (pelo menos foram as
ocorrências que achei):
נָמֻוס = 3x
נָמֻוסֵה = 2x
בּנָמֻוסֵה = 3x
נָמֻוסָא = 114 x
בּנָמֻוסָא = 30 x
ונָמֻוסֵא = 4 x
לנָמֻוסָא = 12 x
Incluindo:
בּנָמֻוסֵה דַּאלָהָא (na Lei de Deus) = Rom. 7:22
דּנָמֻוסָא דַּאלָהָא֖ (da lei de Deus) = Rom. 7:25
לנָמֻוסָא גֵּיר דַּאלָהָא (à lei de Deus) = Rom 8:7; etc.
נָמֻוסָא דּ֣מֻושֵׁא֑ (Lei de
Moisés) = Lc. 2:22; 24:44; Jo. 7:23; At. 15:5; At. 28:23; 1Co. 9:9;
נָמֻוסָא אַו נבִיֵא (Lei ou Profetas) Mat. 5:17;
נָמֻוסָא וַנבִיֵא (Lei e Profetas) = Mat. 7:12; At. 13:15; 24:14; etc.
Ora, se a
Peshitta registra as palavras exatas de Yeshua (Jesus) em aramaico, como
defendem os judaizantes defensores da primazia semita do N.T., como que ele misturaria o aramaico
com o grego? Confira nesse texto da Peshitta (em siríaco ocidental):
ܠܳܐ ܬ݁ܰܣܒ݁ܪܽܘܢ ܕ݁ܶܐܬ݂ܺܝܬ݂ ܕ݁ܶܐܫܪܶܐ ܢܳܡܽܘܣܳܐ ܐܰܘ ܢܒ݂ܺܝܶܐ ܠܳܐ ܐܶܬ݂ܺܝܬ݂ ܕ݁ܶܐܫܪܶܐ ܐܶܠܳܐ ܕ݁ܶܐܡܰܠܶܐ ܀
lō tasbərūn dethīth
deshre nōmūsō ᵓaw nəvīe lō ᵓethīth deshre ᵓelō demale .
"Não penseis que vim desatar o Nomos (a
Lei) ou os Profetas; não vim para desatar, mas para cumprir." (Mat. 5:17) - Tradução livre do texto siríaco ocidental.
Ora, o mais natural seria Ele usar a palavra aramaica
correspondente a Torá, ou seja, ’ōrāythā’ e não a grega nomos. Ou será que na Judeia
eles falavam aramaico misturado com o hebraico e o grego? Aramaico misturado com hebraico, sim, mas misturado com grego, não. O mais natural é que a
Peshitta, por ser uma obra de origem cristã, ou seja, de cristãos da Síria, país esse que
depois da dominação grega por Alexandre Magno que impôs a cultura grega em
todos os lugares onde expandiu o seu império, inclusive com imposição da língua grega, naturalmente
a Síria teve uma mistura do seu idioma aramaico sírio com o grego. O mesmo
poderia ter acontecido com o idioma aramaico da Judéia, mas por causa da a
libertação feita pelos Macabeus, houve uma purificação geral no idioma, na
cultura e até a reconsagração do Templo de Jerusalém que havia sido dedicado ao
Zeus por Antíoco IV Epifânio, um rei helênico da dinastia selêucida descendente
de Selêuco, um dos sucessores dos quatro generais sucessores do império de Alexandre Magno.
Antíoco governou a Síria entre os anos 175 a.C. a 164 a.C. Mas diferentemente
da Judéia, o mesmo não aconteceu com a Síria, pois esta continuou com a influência
grega não só na cultura, mas também no próprio idioma sírio, por isso a influência
grega nas palavras da Peshitta que está escrita no idioma e no tipo de letra usado da
Síria, que é totalmente diferente das letras do aramaico usado pelos judeus.
Não só na Peshitta, mas também nos manuscritos Siríaco Sinaitico e Siríaco Curetoniano temos a palavra grega "nomos" transliteradas na forma enfática ܢܵܡܘܿܣܵܐ (or.: nāmōsā) / ܢܳܡܽܘܣܳܐ (nōmusō):
Resumo:
Oriental: ܢܵܡܘܿܣ
(nāmōs)
Ocidental: ܢܳܡܽܘܣ
(nōmūs)
נָמֻוס
Grego: νόμος (nómos)
k) ܕܝܵܬܹܩܹܐ / דּיָתֵקֵא ( d'yāteqe’ = aliança, pacto; testamento) é mais uma transliteração de uma palavra tipicamente grega (διαθήκη = diathekê) usada pelas comunidades cristãs de fala grega e usada frequentemente pela Peshitta siríaca. Confira: Mateus 26:28; Marcos 14:24; Lucas 1:72; 22:20; Atos 3:25; Romanos 11:27; 1 Coríntios 11:25; 2 Coríntios 3:6, 14; Gálatas 3:15, 17; Hebreus 7:22; 8:6, 8-10; 9:4, 15, 20; 10:16, 29; 12:24; 13:20; Apocalipse 11:19. http://www.dukhrana.com/lexicon/word.php?adr=2:4537&font=Estrangelo+Edessa. Acima, à direita, o site mostra que a raiz da palavra é de origem grega (greek).
Ora, se a Peshitta realmente registra exatamente as palavras do Senhor Jesus em aramaico, ao celebrar a primeira Santa Ceia, ao falar em aramaico o Senhor usou a palavra grega diathekê ao se referir à Nova Aliança conforme está na própria Peshitta? Eis o texto:
ܗܳܢܰܘ ܕ݁ܶܡܝ ܕ݁ܕ݂ܺܝܰܬ݂ܺܩܺܐ ܚܰܕ݂݈ܬ݂ܳܐ ܕ݁ܰܚܠܳܦ݂ ܣܰܓ݁ܺܝܶܐܐ ܡܶܬ݂ܶܐܫܶܕ݂ ܠܫܽܘܒ݂ܩܳܢܳܐ ܕ݁ܰܚܛܳܗܶܐ ܀
הָנַו דֵּמי דּדִיַתִקאִ
חַדתָא דַּחלָפ סַגִּיֵאא מֵתֵאשֵׁד לשׁוּבקָנָא דַּחטָהֵא .
Mattay 26:28 - hōnaw dem dəḏīathīqī
Ḥathā daḤlōf sagīe methesheḏ ləshūvqōnō
daḤṭōhe .
Mateus 26:28 - “Este (é) o meu sangue da Nova
Diathekê, que por muitos é derramado para a remissão dos pecados.” - Tradução livre do texto siríaco ocidental.
Como já foi dito no tópico anterior, o dialeto aramaico-siríaco não é o mesmo aramaico usado por Yeshua e seus contemporâneos judeus, nem na pronúncia e nem no tipo de letra. Também seria estranho Ele ter usado a palavra grega DIATHEKÊ (aliança) em vez de ter usado a palavra tipicamente aramaica QIYĀM (קִיָם), que na forma determinada é קְיָמָא (QeYĀMĀ’). Assim, o termo exato para "Nova Aliança" em aramaico é קְיָמָא חַדתָא (QeYĀMĀ’ ḤAḌTHA’).
Resumo:
Aramaico-siríaco
Oriental: ܕܝܼܵܬܹܩܹܐ (dīāthêqê)
Aramaico-siríaco
Ocidental: ܕ݁ܺܝܰܬ݂ܺܩܺܐ (diyathiqi)
דִ̅יַתִ̅קִא
Grego: διαθήκη (diathêkê)
Não só na Peshitta, mas também nos manuscritos Siríaco Sinaitico temos a palavra grega "nomos" transliteradas na forma ܕܝܼܵܬܹܩܹܐ (diātêqê):
l) Na Peshitta há quatro ocorrências da palavra grega ἀνάγκη (anánkê) que significa: necessidade – Mt.
18:7; 1Co. 7:26; Hb. 9:23 e Jd. 1:3;
Resumo:
Aramaico-siríaco Oriental: ܐܵܢܲܢܩܹܐ (ᵓānanqe)
Aramaico-siríaco Ocidental: ܐܰܢܰܢܩܺܐ (ᵓananqī)
אַנַנקִא
Grego: ἀνάγκῃ
(anánkê)
m) Pentecostes
– ܦܸ݁ܢܛܹܩܘܿܣܛܹܐ / פִּנטֵקָוסטֵא֑. (pinteqōsṭe). Outra palavra
surpreendente na Peshitta aramaica é a ocorrência da palavra grega Pentecostes, que em grego significa:
quinquagésimo (50º), que substitui o termo hebraico סֻּכּוֹת (sukôth)
que significa: cabanas, pois está “escrito na
Lei que o SENHOR ordenara por intermédio de Moisés que os filhos de Israel habitassem
em cabanas, durante a festa do sétimo mês”... (Ne. 8:14-17). Esta palavra de origem grega ocorre na Peshitta (NT) por três vezes,
assim como ocorre no Novo Testamento grego: Atos 2: 1; 20:6 e 1ª Coríntios
16:8.
Resumo:
Aramaico-siríaco
Oriental: ܦܲܢܛܹܩܘܼܣܛܹܐ (panṭeqūsṭe)
Aramaico-siríaco
Ocidental: ܦ݁ܶܢܛܺܩܳܘܣܛܺܐ (penṭīqōwsṭī)
פֵּנטִקָוסטִא
Grego: πεντηκοστῆς (pentêkostês)
n)
C O N T I N U A . . .
Estes são alguns dos
casos em que a Peshitta usa expressões gregas originarias do Novo Testamento
grego, ou seja, translitera e adapta uma palavra grega a sua forma de escrita e
pronúncia.
2º. A Peshitta, a exemplo do texto
grego, chama de “hebraico” às palavras aramaicas. É compreensível os
escritores do NT grego chamarem de "hebraico" às palavras aramaicas,
por ser o idioma usado pelos judeus da sua época (Yuhhanan [João] 5:2; 19:13;
19:17, 20; 20:16; Guilyana [Apocalipse] 9:11), mas como a Peshitta, a exemplo do
grego, chama de "hebraico" às palavras aramaicas nestes textos
citados? R= Por ser uma tradução livre do grego.
Confira:
a) Yuhhanan (João) 5:2 – “Ora, havia ali em 'Urishlem (Jerusalém) um certo lugar de ablução, que era chamado em hebraico ( ܥܸܒ݂ܪܵܐܝܼܬ݂ = ‘ibrayit)
Beth-hhesdā’ (ܒܹܝܬ݂ ܚܸܣܕܵܐ = Beyt-hhesdā’), e tendo nele cinco pórticos.”
b) João 19:13 – “Mas, quando Pilatos
ouviu essa palavra, trouxe Yishō’ para fora e sentou-se no tribunal, no lugar que
é chamado o ‘Pavimento de Pedra’ (ܪܨܝܼܦܬܵܐ ܕܟܹܐܦܹ̈ܐ = R'tsīp'tā' d'kepē'), mas em hebraico é chamado Gaphiphtha. (ܓܦܝܼܦܬܵܐ = G'pīptā’ ou G'phīphtō’ em siríaco ocidental).”
O
que o tradutor sírio da Peshitta chama de hebraico é a palavra aramaica גַּבְּתָא (Gab'thā’)
que ele translitera ܓܦܝܦܬܐ
(G'pīptā’) fazendo confusão entre os dialetos Sul e
Norte do aramaico palestino, chamando este último de “hebraico”.
c) Yuhhanan (João) 19:17 – “Depois, levando sua cruz
para o lugar que é chamado ‘O Crânio’ (ܩܲܪܩܲܦܬ݂ܵܐ = Qarqap'thā’ ou Qarqaph'thō’ no ocidental), mas em hebraico
é chamado Goḡultha (ܓ݁ܵܓ݂ܘܿܠܬ݁ܵܐ
).”
Qarqaph'tā’ significa “O Crânio” em siríaco,
mas o mesmo significado em aramaico é ּגֻּלְגָלְתָא (Gūgālthā’).
d) Yuhhanan (João) 20:16 – Yishō’ disse-lhe:
“Mariam!” Ela se voltou e falou-lhe em hebraico: “Rabuli” ( ܪܲܒܘܼܠܝ ), que quer dizer:
“Mestre” (ܡܲܠܦܵܢܵܐ = malpānā’ / malphōnō no ocidental).
Ora,
רַבּוּנִי
(Rabbuni) ou רבּוֹנִי (Rabboni) é a palavra aramaica equivalente à hebraica רַבִּי (Rabbi), mas o tradutor da Peshitta
a translitera para o seu idioma "Rabulli" (trocando o NUN
pelo LAMAD) mas, por ser uma palavra que não faz o menor sentido em seu
idioma siríaco, mas fazia na língua de Yeshua, ele a traduz para o seu idioma:
"Malfono" (conforme pronúncia do siríaco ocidental) ou "Malpana"
(sir. oriental).
e) Vejamos Guilyana (Apocalipse) 9:11 como foi
traduzido na Peshitta:
“E eles tinham um rei
sobre si, o anjo do abismo; e seu nome, em hebraico é Abaddu; e em Aramayit,
seu nome é Share' (ܫܵܪܹܐ
= despedido, solto, tirado, lançado).”
Pelo fato de a palavra siríaca SHARE
não fazer o menor sentido no contexto, os principais tradutores da Peshitta
para o inglês readaptaram a última parte tendo como base o grego:
John W. Etheridge
(1849): “…but in Javanith his name is Apolon.” (“Javanith” é a
forma siríaca adaptada de Yavanith para "grego");
James Murdock
(1851): “…and in Greek, his name is Apollyon.”;
George M.
Lamsa (1933): “...but in Greek his name is
A-pollyon.”;
Somente a Janet Magiera (2006)
preservou a mensagem como está escrita em siríaco: <<...and in Aramaic, his
name is "Breaker." >> (Da mesma forma a tradução holandesa de Egbert Nierop e em afrikâner de Pad van Waarheid.
A
palavra hebraica אֲבַדּוֹן, ('ǎḇhaddōn) significa; “destruição”,
“ruína” ou “lugar de destruição”, e, substantivada: “o destruidor”, tendo
afinidades com o copta ABBATON, e tendo o mesmo significado a palavra
grega Απολλυων (APOLLIŌN). No Antigo Testamento há somente cinco
ocorrências nos livros poéticos: Jó 26:6; 28:22; 31:12; Salmo 88:11 e
Prevérbios 15:11.
Agora
a pergunta: como a Peshitta, a exemplo do grego, chama de “hebraico”
às palavras aramaicas nestes textos se são palavras aramaicas? Resposta: Por
ser uma tradução livre do grego.
É
compreensível os escritores do NT grego chamarem de “hebraico” às
palavras aramaicas, por ter sido o idioma usado pelos judeus da época que
chamavam o “seu aramaico” de “hebraico” (Yuhhanan [João] 5:2; 19:13; 19:17, 20;
20:16; Guilyana {Apoc.} 9:11), mas é meio estranho a Peshitta também chamar de “hebraico” às palavras aramaicas nestes textos citados!
Além
do mais, se o NT tivesse sido escrito originalmente em hebraico não faria também
sentido um texto escrito em hebraico dizer que tais e tais palavras significam
tal e tal em hebraico! É o mesmo que dizer em português: “Eu sentei no
sofá (que em português significa "estofado").” “Eu ganhei
um automóvel (que em português significa "carro").”
Porque
explicar uma palavra que não resta dúvidas em português e dizer que é assim que
se chama neste idioma?
Então
qual a base para a nova tese de que o Novo Testamento foi escrito em aramaico
ou mesmo em hebraico?
O
principal argumento é que os escritores do NT foram judeus escrevendo para
judeus, logo, teriam que escrever no idioma dos mesmos. Embora haja lógica
nesta tese, não condiz com a realidade, pelo este motivo principal: as boas
novas de Yeshua por ter uma mensagem universal, não poderiam ter sido escritas
em aramaico, pois este idioma há séculos deixou de ser uma língua universal
sendo suplantada pela língua grega que continuou a ser um idioma internacional
falado em todo o império romano que substituiu o império grego, mas não conseguiu
suplantar sua cultura e seu idioma. A Peshitta foi escrita em siríaco (um
dialeto do aramaico) e o seu tipo de letras não era usado pelos judeus do tempo
do Novo Testamento, e muito menos pelos escritores do mesmo e como se pode ver
nos argumentos acima.
Ao
pesquisar sobre a Peshitta, encontrei no site “Ensinando de Sião”,
judaico-messiânico, algo que corrobora o que tenho escrito sobre a Peshitta:
Vide
também:
http://biblicvs.carissimus.com/Trb/BibliaLamsa.htm
= “Muitos eruditos sustentam que as fontes do novo testamento e as
tradições orais dos primeiros cristãos estavam em aramaico, entretanto a
Peshitta parece ter sido influenciada pela leitura bizantina da tradição grega
do manuscrito e está em um dialeto Sírio que é muito mais novo do que aquele
que era contemporâneo a Jesus.”
Outros:
3º. Uma outra prova que a Peshitta é uma tradução do original grego
é o fato de que muitas vezes ela faz citações do Antigo Testamento conforme o
texto grego e não o conforme original semita:
Grego:
Mateus
1:23 - “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será
chamado pelo nome de Emanuel (que quer dizer: Deus conosco).”
Peshitta:
Mateus
1:23 – “Eis
uma virgem conceberá e dará à luz um filho e chamarão seu nome ‘Amanu’ēl
[ܥܲܡܵܢܘܼܐܹܝܠ]
(que é
interpretado: Nosso Deus Conosco)” [ܥܲܡܲܢ
ܐܲܠܵܗܲܢ / עַמַן אַלָהַן = ‘aman
’alāhan]).
a) A Peshitta, a exemplo do NT grego, usa a
palavra que significa A VIRGEM (בּתוּלתָּא = b'tulthā’) que corresponde ao hebraico בְּתוּלָה
(b'tulāh = virgem) e não conforme está 0no texto hebraico: עַלְמָה
(‘almāh = moça, donzela) que não deixa de ser um sinônimo da palavra
“virgem”.
b) Dá a mesma sequência de explicação do grego
falando do significado de עַמַנוּאיִל ( ‘amanu’eyl ) como uma única palavra. Se a Peshitta fosse o
original semita, não precisaria de explicação, pois diferentemente do nome
DANIEL (דָּנִיאֵל),
EMANUEL em hebraico está separado como se fosse uma frase: עִמָּנוּ אֵל (‘IMMÂNU ’ÊL).
|
Septuaginta |
É ensinamento da Antiochian Orthodox
Christian Archdiocese of North America, (de liturgia ortodoxa e sem vínculo
com a igreja romana), que Cristo usou a Septuaginta (grega) por causa de suas
citações: http://www.antiochian.org/node/24247
Confira:
E até fazem citação da mesma:
“O
profeta Isaías (7, 13-15 LXX), citado acima, cerca de 700 anos antes do
nascimento de Cristo, disse à Tribo Hebréia de Judá que um novo ungido, um novo
Messias estava por vir: "E ele disse: Ouvi , pois, ó casa de Davi: Pouco vos é serdes pesados os
homens, senão que também serdes pesados ao meu Deus? Por
isso o Senhor mesmo vos dará um sinal: uma virgem conceberá, e dará à luz um
filho, e seu nome será chamado Emmanuel. ele comerá manteiga e mel, para que
ele saiba rejeitar o mal e escolher o bem." Essa mesma
passagem é citada pelo Santo Apóstolo e Evangelista Mateus (1:23) ao anunciar o
nascimento de Cristo.”
Eu
pessoalmente não creio que Cristo tenha usado a LXX (ou mesmo feito citação
direta da mesma), mas sim, que citou as Escrituras Hebraicas, embora os
escritores do NT grego original a tenham utilizado ao registrarem em grego as
palavras do Messias.
c) Não só o texto acima
de Mateus, mas praticamente quase todas as citações do Antigo Testamento no
Novo Testamento grego provêm da LXX (Septuaginta grega), e a Peshitta na
maioria das vezes os segue:
c1) 1ª CORINTIOS 3.20:
NT Grego: “E outra vez: O Senhor conhece os pensamentos dos
sábios, que são vãos.”
Septuaginta: “O Senhor conhece os pensamentos dos sábios,
que são vãos.”
NT Peshitta: “E novamente, O Senhor-Yah conhece os
pensamentos dos sábios, que são vãos.”
Salmo 94:11 (hebraico): “YHWH conhece os
pensamentos do homem, que são vãos.”
Mais uma prova que a Peshitta traduziu o texto
do grego e não um texto semita, pois se assim o fosse, traria a palavra “homem” conforme o hebraico e não “sábio” conforme o texto grego.
c2) 1ª CORINTIOS 14.21:
NT grego: “Na lei está escrito: Por outras línguas, e por
outros lábios, falarei a este povo, e ainda assim não me ouvirão, diz o Senhor.”
Peshitta: “Na lei está escrito, ‘Em um idioma estranho e em
outra língua falarei com este povo; ainda assim eles não me ouvirão’, diz o
Senhor-Yah.”
Isaías 28:11 (hebraico): “Assim por lábios
gaguejantes, e por outra língua, falará a este povo.”
A Peshitta acrescenta: “diz o Senhor-Yah”, frase que não
consta no original semita (VT), mas sim no original helênico (NT).
c3) LUCAS 4:18-19 / ISAÍAS
61.1-2a
NT
grego: “O Espírito do Senhor é sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar os
pobres, enviou-me a curar os quebrantados do coração, a apregoar liberdade aos
cativos, a dar vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos,
“a anunciar o ano
aceitável do Senhor.”
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Peshitta:
“O Espírito do Senhor-Yah
está sobre mim, porque Ele me ungiu para pregar aos pobres, e enviou-me a curar
os quebrantados
de coração, a proclamar a
libertação aos cativos e vista aos cegos, e fortalecer os contritos por
remissão
“e para proclamar o ano aceitável do Senhor-Yah”
Hebraico:
“O
Espírito do Senhor YHWH está sobre mim, porque YHWH me ungiu para pregar
boas-novas aos mansos; enviou-me a restaurar os quebrantados de coração, a
proclamar liberdade aos cativos e a abertura de prisão aos presos;
“A apregoar o ano aceitável do YHWH”.
E assim podemos constatar
mais uma vez que a Peshitta reflete o texto grego do NT, e não o texto semita
do Antigo Testamento, pois no texto hebraico de Isaías não consta a palavra a
frase "vista aos cegos", que é um acréscimo da Septuaginta
grega e refletida no Novo Testamento grego.
4º. A
Peshitta Aramaica traduzindo o aramaico-judeu:
a) Deus
meu, Deus meu, porque me desamparaste?
O
Salmo 22, que está originalmente em hebraico, é um Salmo Messiânico da
crucificação, mas analisaremos somente o primeiro verso e seu paralelo com o
Novo Testamento:
Hebraico:
אֵלִי אֵלִי לָמָה עֲזַבְתָּנִי ( ’ĒLĪ ’ĒLĪ LĀMĀH ‘aZABhTĀNĪ )
No
Novo Testamento, em Mateus 27.46:
1.
Grego: Ηλι ηλι λαμα σαβαχθανι ( ĒLI ĒLI LAMA SABAKhTHANI )
2. Peshitta: אִיל
אִיל למָנָא שׁבַקתָּני ( ’ĪL ’ĪL LeMĀNĀ’ SH'BhAQTĀNY ) - Colocamos a frase da Peshitta com o mesmo tipo de letra do texto hebraico, para efeito de comparação.
Marcos 15.34:
1. Grego: Ελωι ελωι λεμα σαβαχθανι ( ELŌI ELŌI LEMA SABAKhTHANI )
2. Peshitta: אַלָהי
למָנָא שׁבַקתָּני
( ’ALŌHY ’ALŌHY LeMĀNĀ’ SH'BhAQTĀNY )
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O mais interessante é que há a mesma diferença
tanto no texto grego como na Peshitta, pois Mateus mistura hebraico com
aramaico ("Deus meu, Deus meu" em hebraico e "porque
me desamparaste?" em aramaico) e Marcos faz a citação somente em
aramaico puro. A Peshitta, a exemplo do NT grego, repete essa diferença, e
mais: dá a mesma explicação do significado da frase aramaica de Marcos.
Como
a Peshitta foi escrita no idioma Siríaco que é uma língua do grupo noroeste semita
ou aramaico-siríaco, da região centrada na cidade de Edessa (hoje Urfa) no
norte da Mesopotâmia, sendo também a língua de um dos primeiros reinos cristãos
da história, Osrhoene, logo, longe das imediações da Judeia, há uma grande
diferença entre este idioma tanto da fala, quanto no tipo de escrita do
aramaico-judaico e do aramaico-galileu.
Assim
sendo, o tradutor da Peshitta, a exemplo do NT grego, explica o significado do
apelo messiânico com base no Salmo 22:1, somente em Marcos 15:34, parte “b”,
como veremos a seguir o texto em siríaco em duas formas de escrita com
transliteração e tradução:
ܐܹܝܠ ܐܹܝܠ ܠܡܵܢܵܐ ܫܒܲܩܬܵܢܝ. ܕܐܝܼܬܹܝܗ̇ ܐܲܠܵܗܝ ܐܲܠܵܗܝ. ܠܡܵܢܵܐ ܫܒܲܩܬܵܢܝ ܀
אִיל אִיל למָנָא שׁבַקתָּני
דּאִיתֵיה אַלָהי אַלָהי למָנָא שׁבַקתָּני .
ᵓēl ᵓēl l’mānā sh’baqtāny dᵓītēh
ᵓălāhy ᵓălāhy l’mānā sh’baqtāny.
Il, Il, Lamona Shabaktoni! Which is, Alohi! Alohi! why hast
thou forsaken me? (Mk. 15:34 Etheridge)
b)
Campo de sangue
Este é mais um exemplo de que a Peshitta não foi produzida no primeiro século A.D., pois interpreta (traduz) o nome aramaico do campo em que Judas Iscariotes se enforcou e o seu corpo despedaçou ao cair sobre as pedras. (At. 1:19; Mt. 27:8)
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É normal o Novo Testamento grego traduzir a palavras aramaica חֲקַל־דְּמָא (HaQAL DeMAᵓ):
Ἁκελδαμάχ τοῦτ ἔστιν Χωρίον Αἵματος
AKELDAMAKH TOUT ESTIN KHŌRION HEMATOS
Aceldama, isto é, Campo de Sangue
Eis como a Peshitta
em aramaico-siríaco traduz a palavra composta aramaica חֲקַל־דְּמָא (HaQaL-DeMāᵓ):
ܘܗܵܟܲܢܵܐ ܐܸܬ݂ܩܲܪܝܲܬ݂ ܩܪܝܼܬ݂ܵܐ ܗܵܝ ܒܠܸܫܢܹܗ ܕܐܲܬ݂ܪܵܐ ܚܩܲܠ
ܕܡܵܐ. ܕܐܝܼܬ݂ܵܘܗܝ ܬܘܼܪܓܵܡܵܗܿ ܩܘܼܪܝܲܬ݂
ܕܸܡ.
w'hākanā ᵓithqaryath q'rīthā
hāy bəlishānēh dathrā Ḥəqal Dəmā dīthaw" tūrgāmāh qūryath dim .
"...assim é chamado aquele campo na língua do país: Hecal-dema, que é
interpretado: Campo de Sangue."
Para a melhor compreensão dos seus leitores, na Peshitta foi preciso ser traduzida a frase em
aramaico-judaico, a exemplo do NT grego, pois traduz o termo חֲקַל־דְּמָא (HaQaL DeMāᵓ [Aceldama] = Campo de
Sangue) por ܩܘܼܪܝܲܬ݂ ܕܸܡ / קוּריַת דֵּם (QūRYaṮ DeM).
Poderíamos colocar exaustivamente outras
citações do NT grego que faz referência ao original semita (VT), mas que a
Peshitta segue o texto grego ao invés do texto hebraico, mas creio que estes textos
sejam suficientes para não nos prolongarmos muito.
5º. A Peshitta copia a ordem sintática grega,
mas que é estranha às outras formas do aramaico e mesmo do hebraico, como por
exemplo, o uso da partícula adversativa grega δὲ (dè) que ocorre um pouco mais de 2840 vezes no NT grego,
contudo, nunca começa uma frase, mas está sempre após um substantivo, artigo,
verbo, etc., na frase principal. Exemplo:
1) e: ...Ἰσαὰκ δὲ ἐγέννησε τὸν Ἰακώβ... (Mat 1:2b); Ἰούδας δὲ ἐγέννησε τὸν Φαρὲς καὶ τὸν Ζαρὰ ἐκ τῆς Θάμαρ· Φαρὲς δὲ ἐγέννησε τὸν Ἐσρώμ· Ἐσρὼμ δὲ ἐγέννησε τὸν Ἀράμ· (Mat 1:3), etc.;
2)
mas: Ἰωσὴφ δὲ ὁ ἀνὴρ αὐτῆς, δίκαιος ὤν... (Mat 1:19a); ἀποκριθεὶς δὲ ὁ Ἰησοῦς εἶπε πρὸς αὐτόν (Mat 3:15b); οἱ δὲ Ἰουδαῖοι παρώτρυναν τὰς σεβομένας γυναῖκας... (At. 13:50); ὁ δὲ πνευματικὸς ἀνακρίνει μὲν πάντα (1Co 2:15), etc. ;
3) Simplesmente indicando uma transição, “agora”,
“então”, “ora”: ἦν δὲ ἐκεῖ πρὸς τὰ ὄρη ἀγέλη χοίρων μεγάλη βοσκομένη· (Mc. 5:11); ο δὲ ειπεν αυτοις Αλλα νυν ο εχωˉ βαλλαντιον
(Lc.22:36);
4)
Indicando uma consequência: “isto é”, “estes”: δικαιοσύνη δὲ Θεοῦ διὰ πίστεως Ἰησοῦ Χριστοῦ
(Rom. 3:22a); παντα δὲ ταυτα τυπικως συνεβαινεˉ (1Co 10:11a); γενόμενος ὑπήκοος μέχρι θανάτου, θανάτου δὲ σταυροῦ (Fil. 2, 8);
5)
Após uma negativa “em vez”, “não obstante”, “antes”: ...χαίρετε δὲ μᾶλλον ὅτι τὰ ὀνόματα ὑμῶν ἐγράφη ἐν τοῖς οὐρανοῖς (Lc 10:20b); ...ἐδόκει δὲ ὅραμα βλέπειν (At 12:
9b); ἀληθεύοντες δὲ ἐν ἀγάπῃ... (Ef. 4:15a); ...πάντα δὲ γυμνὰ καὶ τετραχηλισμένα τοῖς ὀφθαλμοῖς αὐτοῦ πρὸς ὃν ἡμῖν ὁ λόγος (Heb 4:13b) πεπειρασμένον δὲ κατὰ πάντα καθ᾽ ὁμοιότητα, χωρὶς ἁμαρτίας (Heb 4:15b)
6) Dando
ênfase, mas algumas vezes omitida na tradução: καὶ... δὲ, δὲ... καὶ, ἐὰν... δὲ: “e também, “mas ainda”, “mas e”: ἐὰν δὲ παρακούσῃ αὐτῶν, εἰπὲ τῇ ἐκκλησίᾳ (Mat 18:17a); ἐκλήθη δὲ καὶ ὁ Ἰησοῦς καὶ οἱ μαθηταὶ αὐτοῦ εἰς τὸν γάμον (Jo. 2:2); ὁ δὲ Παῦλος ἔφη, Ἐγὼ δὲ καὶ γεγέννημαι (Act 22:28); εὑρισκόμεθα δὲ καὶ ψευδομάρτυρες τοῦ Θεοῦ,
(1Co 15:15).
É
próprio do aramaico tanto bíblico, como talmúdico, etc. usar a conjunção ו WAW (e, mas,
também) prefixada à palavra principal:
Gen.
1:3
וַיֹּ֥אמֶר אֱלֹהִ֖ים יְהִ֣י א֑וֹר וַֽיְהִי־אֽוֹר׃ Hebraico bíblico -
וַאֲמַר יְיָ יְהֵי נְהוֹרָא וַהֲוָה נְהוֹרָא׃ Aramaico targúmico -
O
mais interessante é que a Peshitta, de forma inédita num idioma semita, mesmo
em aramaico tardio, imitando a partícula grega δὲ (dè) usa a conjunçãoדֵּין / ܕܹ݁ܝܢ (deym,
din) cerca de 1830 vezes, também após a palavra principal na construção
da frase, mostrando sua dependência do texto grego original, o que os
linguistas chamam isso de “decalque”:
1) João 1:11a
ܗܵܝ ܕܹ݁ܝܢ ܐܸܡܪܲܬ݂ ܘܠܵܐ ܐ݈ܢܵܫ ܡܵܪܝܵܐ ܐܸܡܲܪ ܕܹ݁ܝܢ ܝܼܫܘܿܥ ܐܵܦ݂ܠܵܐ ܐܸܢܵܐ ܡܚܲܝܼܒ݂ ܐ݈ܢܵܐ ܠܸܟ݂ܝ... NT Peshitta
NT grego
- ἡ δὲ εἶπεν, Οὐδείς, Κύριε εἶπε δὲ αὐτῇ ὁ Ἰησοῦς, Οὐδὲ ἐγώ σε κατακρίνω...
E ela disse: Ninguém, Senhor.
E disse-lhe Jesus: Nem eu também te
condeno...
2) Mateus 1:18a
ܝܲܠܕܹ݁ܗ ܕܹ݁ܝܢ ܕ݁ܝܼܫܘܿܥ ܡܫܝܼܚܵܐ ܗܵܟ݂ܲܢܵܐ ܗܘܵܐ ܟ݁ܲܕ݂...
Τοῦ δὲ Ἰησοῦ Χριστοῦ ἡ γέννησις οὕτως...
Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim...
3) Mateus 1:19a
ܝܲܘܣܸܦ݂ ܕܹ݁ܝܢ ܒܲܥܠܵܗ̇ ܟܹܐܢܵܐ ܗ̱ܘܵܐ .ܘܠܵܐ ܨܒ݂ܵܐ ܕܲܢܦܲܪܣܹܝܗ̇...
Ἰωσὴφ δὲ ὁ ἀνὴρ αὐτῆς, δίκαιος ὤν, καὶ μὴ θέλων αὐτὴν
παραδειγματίσαι
…
Mas José, seu esposo, sendo justo e não a querendo infamar...
4) Mateus 1:21a
ܬܹܐܠܲܕ݂
ܕܹ݁ܝܢ ܒܪܵܐ
:ܘܬܸܩܪܹܐ ܫܡܹܗ ܝܼܫܘܿܥ...
τέξεται δὲ υἱόν, καὶ καλέσεις τὸ ὄνομα αὐτοῦ Ἰησοῦν·…
E ela dará à luz um filho, e lhe porás o nome de JESUS...
5) Mateus 1:22a
ܗܵܕ݂ܹܐ ܕܹ݁ܝܢ ܟܠܵܗ̇ ܕܲܗܘܵܬ݂ ܕܢܸܬ݂ܡܲܠܹܐ...
τοῦτο δὲ ὅλον γέγονεν, ἵνα πληρωθῇ...
Ora,
tudo isto
aconteceu para que se cumprisse...
6º. Mais
uma prova de decalque da Peshitta como prova de que ela é uma cópia do NT grego é o fato de que nela muitas
vezes está contida a ordem das palavras gregas numa frase, o que pode gerar um erro
de interpretação do texto. Vamos dar somente um exemplo em Yuhhanan (João)
1.1:
NT grego: Ἐν ἀρχῇ ἦν
ὁ λόγος, καὶ ὁ λόγος
ἦν πρὸς τὸν Θεόν, καὶ Θεὸς
ἦν ὁ λόγος.
En arkhē ēn ho Logos, kai ho Logos ēn
pros ton Theon, kai Theos ēn ho Logos.
NT Peshitta:
ܒܪܵܫܝܼܬ݂ ܐܝܼܬ݂ܵܘܗܝ ܗܘ̣ܵܐ ܡܸܠܬ݂ܵܐ. ܘܗܘܼ ܡܸܠܬ݂ܵܐ. ܐܝܼܬ݂ܵܘܗܝ ܗܘ̣ܵܐ ܠܘܵܬ݂ ܐܲܠܵܗܵܐ. ܘܐܲܠܵܗܵܐ ܐܝܼܬ݂ܵܘܗܝ ܗܘ̣ܵܐ ܗܸܘ ܡܸܠܬ݂ܵܐ ܀
בּרִשִׁית אִיתַוהי הוָא מֵלתָא והֻו מֵלתָא אִיתַוהי הוָא
לוָת אַלָהָא וַאלָהָא אִיתַוהי הוָא הֻו מֵלתָא׃
Bərishīth ᵓīthaw" hwā Milthā.
W'hū Milthā ᵓīthaw" hwā ləwāth ᵓĂlāhā. WᵓĂlāhā ᵓīthaw" hwā hū Milthā.
Em princípio era o Verbo (מִלתָא = Milthā’) e ele, o Verbo (Milthā’), estava para com o Deus (’Alāhā’)
e o Deus (’Alāhā’) era ele o Verbo (Milthā’).
Por copiar a ordem das palavras gregas na parte
"c" do verso, a Peshitta dá a entender que embora o Miltha estivesse
com o Alaha, o Alaha era o Miltha:
...WᵓĂlāhā ᵓīṯaw" hwā hū Milthā.
...e o Deus era ele mesmo a Palavra
E assim podemos ver que neste texto, na Peshitta, palavra אַלָהָא (’Alāhā’) é enfática (definida) em todas as suas ocorrências.
Se a palavra estivesse na forma absoluta seria: אַלָה (’Alāh).
A frase kai Theos en ho Logos está literalmente em grego “e Deus era a Palavra”, mas a ordem da frase na tradução deve ser “E a Palavra era Deus” pelo fato de o substantivo logos (palavra, verbo) estar com artigo e a theos ser anartra (sem o artigo), sendo um adjetivo de Logos. Estranhamente,
como já dissemos anteriormente, o tradutor da Peshitta usou a mesma
ordem dos substantivos gregos em João 1:1c, mas todos articulados:
O
idioma grego usa um conjunto de alternâncias de formas para uma palavra de acordo com a sua função sintática na oração chamado declinação que é a flexão de um substantivo, um pronome, um adjetivo ou um particípio onde o
final da palavra é modificado para indicar a sua relação com com o resto da oração. Assim sendo, pela declinação de uma palavra podemos saber se ela é o sujeito principal da oração (nominativo), se indica relação de posse (genitivo), se é objeto direto (acusativo), objeto indireto (dativo) ou se é um vocativo.
Também é importante a posição do artigo em
relação à palavra declinada a qual ele define. Como estamos comentando João 1:1, vejamos a parte "c" (final) em grego:
Grego:
καὶ Θεὸς ἦν ὁ λόγος (kai Theos en ho logos)
Literalmente está assim: “E Deus era o Verbo”,
ou: “E Deus era a Palavra”.
Alguns tentam ver nesse texto um artigo indefinido e
ao traduzirem literalmente o fazem assim: “E um deus era a Palavra", e, na tradução formal: “E a
Palavra era [um] deus", a exemplo da “Tradução do Novo Mundo” da
Torre que vigia os TJ.
Ora, no grego, nem sempre um substantivo anartro (sem o
artigo) é indefinido, pois somente é indefinido quando não se sabe quem é o
sujeito principal da oração, e esta regra somente pode ser aplicada quando o substantivo anartro VEM DEPOIS DO VERBO, o que não é o caso de João 1:1. Uma
palavra (ou sujeito), na oração, só é indefinida quando não se sabe a quem se
refere, ou quando há vários outros da mesma espécie, não identificando alguém,
e justamente por isso que se diz que é indefinida. Ora, é sabido que muitas
vezes o idioma grego dispensa o artigo em nomes próprios, títulos, funções,
atributos, etc., e mesmo assim subentende-se que determinada palavra ou frase é
definida. Tomemos por exemplo o verso 6 do mesmo capítulo que ninguém traduz: “Houve um homem enviado de Deus, cujo nome era João.” (ἐγένετο ἄνθρωπος
ἀπεσταλμένος παρὰ θεοῦ, ὄνομα αὐτῷ Ἰωάννης), ou o verso 18a: “Deus ninguém
jamais viu” (θεὸν οὐδεὶς ἑώρακε πώποτε·).
Nestes dois exemplo o substantivo theos é anartro. Outras ocorrências no
Evangelho de João onde a palavra “theos” é anartra e nem por
isso é traduzida como indefinida: 3:2; 5:44; 8:54; 9:16 e 33; 13:3; 17:3 e 19:7.
7º. Explicações
desnecessárias para judeus, mas não para os gentios
A pergunta é: por que há
explicações sobre palavras e costumes judaicos repetidos na Peshitta a exemplo
do texto grego, se a Peshitta tivesse sido escrita por judeus?
a) Marcos 7:1-4
“E ali se reuniram com
ele os fariseus e os escribas que tinham vindo de Urishlem [Jerusalém], e viram alguns dos seus
discípulos comendo pão com as mãos não lavadas, e se queixaram (pois todos os
judeus e os fariseus, a menos que cuidadosamente lavem suas mãos não comem,
porque eles se apegam à tradição dos anciãos; e quando [vêm] do mercado, a
menos que se batizem [ܥܵܡܕܝܼܢ = ‘āmdiyn], não comem. E muitas
outras coisas receberam para observar: o batismo [ܡܲܥܡܘܿܕ݂̈ܝܵܬ݂ܵܐ = ma‘mō̕dhyāthā’] de copos, jarros, utensílios
de bronze e de camas.).” (Peshitta, tradução livre, literal)
Ora, se a Peshitta
fosse o original semita não necessitaria de explicações sobre os costumes
judaicos, pois os judeus já estavam mais que familiarizados com eles, mas os
leitores gentios do texto grego, não.
O mais interessante é
que a Peshitta até usa um equivalente do verbo batizar (ܠܡܸܥܡܲܕ݂ = lǝme‘mad) e do substantivo batismo (ܡܲܥܡܘܿܕ݂ܝܵܬ݂ܵܐ = ma‘mō̕dyātā’) no texto acima onde
estes aparecem no texto grego!
b) João 1:19
“Este foi o testemunho de
João, quando os judeus lhe enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para lhe
perguntarem: Quem és tu?”
Essa é a primeira
referência, entre tantas outras, onde o evangelista João usa o termo "os
judeus", primeiramente ao se referir aos interlocutores de João Batista,
e, em outros casos, ao Senhor Jesus, provando que os seus leitores eram de
outra nação gentílica.
Outros exemplos:
1. “E os judeus perseguiam
Jesus, porque fazia estas coisas no sábado.” (Jo. 5:16)
2. “Murmuravam, pois, dele
os judeus, porque dissera: Eu sou o pão que desceu do céu.” (Jo. 6:41)
3. “Então, diziam os judeus:
Terá ele, acaso, a intenção de suicidar-se? Porque diz: Para onde eu vou vós
não podeis ir.” (Jo. 8:22)
4. “Responderam-lhe os
judeus: Temos uma lei, e, de conformidade com a lei, ele deve morrer, porque a
si mesmo se fez Filho de Deus.” (Jo. 19:7), etc.
Ora, se eu tivesse
escrevendo a brasileiros vários acontecimentos em nosso país, falando sobre o
que me fizeram ou me disseram, eu não iria ficar dizendo: "Em tão me disse
um brasileiro", "os brasileiros fizeram tal e tal coisa", a não
ser que tivesse pessoas de outra nacionalidade envolvida no assunto. O mesmo se
dá com as narrativas do N.T. pois se tivesse sido escrito primeiramente ou somente para os judeus, não necessitaria ficar repetindo a palavra "judeu" a cada narrativa onde estes aparecem. Por acaso o Senhor Jesus também não era judeu?
c) João 4:9
“Então, lhe disse a
mulher samaritana: Como, sendo tu judeu, pedes de beber a mim, que sou mulher
samaritana (porque os judeus não se dão com os samaritanos)?”
Não somente o texto
grego, mas também a Peshitta fornece a mesma explicação sobre a rixa entre
judeus e samaritanos. Ora, se esse evangelho tivesse sido escrito primeiramente
para os judeus, não necessitaria da explicação de que os samaritanos não se
davam com os judeus, pois todo judeu da época sabia disso, mas não os leitores
gentios.
8º. A Peshitta reflete o grupo
dos chamados "textos bizantinos"
A Peshitta é uma das maiores testemunhas
do Texto Majoritário (que muitos consideram recentes), onde a Crítica Textual
enquadra seus textos base no grupo dos textos bizantinos.
Textos que a tal Crítica Textual
considera acréscimos posteriores ao IV século são confirmados na Peshitta:
a) Mateus 6:13
ܡܛܠ ܕܕ݂ܝܼܠܵܟ݂ ܗ̄ܝܼ ܡܲܠܟܘܼܬ݂ܵܐ. ܘܚܲܝܠܵܐ ܘܬܸܫܒܘܼܚܬܵܐ: ܠܥܵܠܲܡ ܥܵܠܡܝܼܢ ܀
מֵטֻל דּדִילָך ה֗י מַלכֻּותָא֖ וחַילָא֖
ותֵשׁבֻּוחתָּא֑ לעָלַם עָלמִין:
metul dəḏīlākh (h)yi malkūthā, w'ḥaylā w'tishbūḥtā ləᶜālam
ᶜālmīn .
...porque teu é o reino, o poder e a glória para
sempre.
b) Marcos 9:44 e 46
ܐܲܝܟܵܐ ܕܬ݂ܵܘܠܲܥܗܘܿܢ. ܠܵܐ ܡܵܝܬܵܐ ܘܢܘܼܪܗܘܿܢ ܠܵܐ ܕܵܥܟܵܐ ܀
אַיכָּא דּתַולַעהֻו֖ן לָא מָיתָּא֖ ונֻורהֻו֖ן לָא דָּעכָּא:
ᵓaykā
dəthawlaᶜhōn, lā māytā w'nūrhōn
lā dāᶜkā
onde o verme deles não
morre, e o seu fogo deles não apaga.
Etc.
c) A Peshitta confirma o final longo de
Marcos 16:9-20, presente nos códices Alexandrinus e Washingtonianus, mas ausente
nos códices Sináiticus e Vaticanus.
d) A Peshitta confirma a passagem da
mulher pega em adultério (João 7:53-8:11), texto ausente nos códices gregos
Sinaiticus, Alexandrinus, Vaticanus, Washingtonianus e no Siríaco
Curetoniano e Siríaco Sináitico, mas presente no códice grego de Bezae.
Não desconsidero a versão “Peshitta”(*1),
pois ela tem o seu valor na manuscritologia do Novo Testamento no que se refere
à crítica textual, e é também uma das mais antigas traduções do mesmo. Amo a
sua leitura, mas não a idolatro nem me engano dando-lhe um valor maior do que
já tem.
Eu creio na origem semita do NT da seguinte
forma: Os escritores e o ambiente vivido por eles eram semitas, mas os seus
destinatários, não, pois, por ser a mensagem do Euang'elion universal, teria que
ser escrita num idioma universal da época, ou seja, o grego, pois, após as
conquistas de Alexandre Magno que implantou a cultura grega no mundo conhecido
e depois a dos romanos, o aramaico caiu em desuso como idioma universal,
sendo substituído pelo grego, como é aceito universalmente). Logo, era natural
os escritores citarem locais e expressões em hebraico ou aramaico, inclusive
explicando o significado dos mesmos para aqueles que não entendiam o contexto e
tradições judaicos. Muitos escritores amazonenses (e até de outros Estados
brasileiros) que escreveram sobre os indígenas e seus costumes usaram
expressões dos mesmos e até explicaram os significados de suas palavras e
costumes, pois seus escritos não foram destinados especialmente aos índios, mas
aos que lhes eram “estrangeiros”.
Quanto à Peshitta, o caso é diferente, pois
se ela tivesse sido a escrita original do NT e tendo expressões semíticas
próprias, não tinha porque usar palavras gregas que somente se tornaram
conhecidas por causa do Novo Testamento grego usado pelas comunidades cristãs
de fala grega, fato que demonstra a ulterioridade da Peshitta em relação aos
textos gregos.
Além do mais, há outras traduções siríacas distintas da
Peshitta, como por exemplo, o Síríaco Sinaítico (ou Sinaítico
Palimpsesto) composto por 358 folhas que datam do final do século IV e
preservado no mosteiro de Santa Catarina no monte Sinai contendo uma tradução
dos Evangelhos; o Síríaco Curetoniano também contem os quatro evangelhos com
tradução independente da sináitica, mas também difere consideravelmente dos
textos gregos canônicos. Há também a tradução feita pelo bispo Policarpo em 508
sob a supervisão de Filoxenus, bispo de Mabug, e por isso é chamada de Peshitta
Filoxeniana.
Ora se a Peshitta tivesse sido o original do Novo Testamento,
não haveria motivos para diversas traduções para o siríaco em tão pouco espaço
de tempo, mas seria venerada e copiada aos milhares.
Há também um fator
importante a considerar: a linguagem aramaica-siríaca usada na Peshitta não
reflete o aramaico usado na Judeia e suas imediações, no primeiro século A.D.,
presente em algumas passagens do Novo Testamento grego, nem seus tipo de letra
jamais foi usado pela comunidade judaica que usava a forma de letras quadrada ashurith
e não as formas estranguela, serto ou nestoriana usadas
nas edições da Peshitta.
Assim sendo, se o Novo Testamento tivesse sido escrito em aramaico teria fatalmente sido escrito com letras usadas por Yeshua (Jesus) e seus contemporâneos, ou seja em letras ashurith, mas não existe NENHUM
manuscrito do Novo Testamento em aramaico com letras Ashurith (atualmente
chamadas "hebraicas quadradas") além dos manuscritos em aramaico-siríaco, ou
seja, com letras siríacas. Não houve uma transliteração de um texto existente em aramaico quadrado (usados pelos judeus) para o siríaco (usados pelos cristãos), como houve com o Antigo Testamento que, a partir de Esdras, foi TODO transliterado da escrita hebraica antiga (atualmente chamada de "paleo-hebraico") para a escrita aramaica-assíria (ashurith) que passou a ser chamada de hebraica (ou "hebraica quadrada"). Ver estudo nº 27- A transição da Escrita Páleo-hebraica para a Escrita Aramaica-assíria nas
Escrituras - http://cacerege.blogspot.com/2018/10/a-transicao-da-escrita-paleo-hebraica_22.html
O Novo Testamento em Aramaico-siríaco é representados por diversas traduções sempre com letras siríacas: Antigo Siríaco
(Vetus Syria), Diatessarão (os quatro evangelhos), Peshitta (Bíblia completa no estilo e posterior vocalização oriental e ocidental - a tradução do Antigo Testamento para o siríaco é muito antiga e foi feita quase que totalmente do texto hebraico, mas algumas passagens são claramente tiradas da Septuaginta e também de um targum)(*2),. a Versão
Harcleana de Tomas Harqel (616 d.C.), e evangelhos do século V (versões conhecidas como Siríaco
Sinaitico e Siríaco Curetoniano) e a “Syro-Hexapla” do século VII. Se tem
outras versões além dessas, desconheço. Todos estas são traduções distintas que
tiveram como base o texto grego do N.T., mas algumas com os quatro evangelhos,
são traduções distintas que fogem ao estilo do texto grego, mas em todas estas traduções há entre elas diferenças no estilo e uso
de palavras sinônimas, como temos em diversas traduções da Bíblia para o
português, o que não ocorreria de fossem transliterações de um texto original em aramaico onde poderia haver um padrão com algumas ou muitas variantes por erro de copistas, como aconteceu com o texto em grego.
Na próxima postagem abordaremos
melhor o argumento do porque o Novo Testamento não ter sido escrito em hebraico
e nem destinado ou pelo menos seus destinatários principais terem sido os
judeus.
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2º) PORQUE O NOVO TESTAMENTO NÃO FOI ESCRITO ORIGINALMENTE EM HEBRAICO:
Há,
atualmente, um chamado “Movimento Raízes Hebraicas”, movimento
judaizante que se infiltrou através da cultura e religião judaica onde promove
um Novo Testamento Semita baseado em supostos manuscritos hebraico e aramaico.
Como já foi dito anteriormente, têm aparecido na internet alguns “tradutores”
mentindo dizendo que traduziram “a Brith haKhadashah (Novo Testamento)
diretamente dos originais semitas em hebraico e aramaico (Peshitta)”, sendo o
grego uma mera tradução dos “originais semitas”, mas maciças
evidências atestam que tais traduções não passam de revisões livres de
traduções já existentes. Nunca foram encontrados manuscritos ou porções de
manuscritos semíticos que contenham evidências de terem sido cópias de um “original semita”.
Todos
os defensores de um suporto Novo Testamento original semita promovem a ideia
que se o Novo Testamento foi escrito por judeus, logicamente escreveram na
língua e escrita judaica para judeus, tendo a sua mensagem um papel secundário
para os goy (gentios).
A teoria dos originais em hebraico nos relatos
dos Evangelhos foi proposta em um livro intitulado The Difficult Words of
Jesus (As Palavras Difíceis de Jesus) de autoria de David Bivin e Roy Blizzard, que lançam dúvidas sobre a
inspiração original dos evangelhos em grego:
“Porque as palavras de Jesus que encontramos nos
Evangelhos Sinópticos são tão difícil de entender? A resposta é que o evangelho
original que serviu de base para os Evangelhos Sinópticos foi comunicado não em
Grego, mas na língua Hebraica. Apesar isso, todas as traduções modernas são
baseadas em cima de um texto Grego, derivado de um texto Grego mais antigo
ainda, que é em si uma tradução original da Vida Hebraica de Jesus. Isto
significa que estamos lendo uma tradução em Inglês de um texto que tem como
base uma tradução. Uma vez que os Evangelhos Sinópticos são derivados a partir
de um texto original Hebraico, estamos constantemente esbarrando em expressões
Hebraicas ou expressões que muitas vezes estão sem sentido em Grego, ou em
traduções do Grego.”
“Nossas razões para escrever este livro não são
apenas para mostrar que o evangelho original foi comunicada na língua Hebraica,
mas para mostrar que todo o Novo Testamento só pode ser compreendido a partir
de uma perspectiva Hebraica.”(*3)
É
certo que há muito hebraísmo no Novo Testamento, especialmente nos Evangelhos,
mas isso não é prova para se concluir que este foi escrito em hebraico. O Novo
Testamento simplesmente descreve expressões e conceitos judaicos da época do
Messias.
Já
demonstramos anteriormente que o Novo Testamento não foi originalmente escrito
em aramaico e que nem o texto siríaco da Peshitta seja o autógrafo original da
Nova Aliança, pois há evidências mais do que suficiente que a
Peshitta/Peshitto não passa de mais uma tradução do Novo Testamento grego. Mas
muitos dos nossos amigos e irmãos judeus messiânicos ainda teimam em afirmar
que o Novo Testamento tenha uma origem semita, se não com a Peshitta, mas em
hebraico mesmo, texto esse ainda perdido.
Será
que Deus, o Autor das Escrituras Sagradas não teve capacidade de preservar cópias dos originais semitas do Novo
Testamento, ou ainda está guardando para um “momento oportuno” para revelá-las?
Se isso for verdade, e os milhões que foram enganados com a ideia de um NT
grego original?
Ora,
esse “original semita” não passa de conjetura. Não passa de mais uma
suposição sem fundamento linguístico ou histórico. Nada mais que isso.
Muitos
conjecturam que o original semita teria sido escrito para judeus convertidos ao
Mashiahh, e logicamente deveria ter sido escrito numa língua semita, seja
hebraico ou aramaico. Ora, se foi escrito em hebraico/aramaico para os judeus
convertidos, porque Paulo ao escrever para as congregações fala dos judeus na
terceira pessoa? E por que os Evangelhos explicam costumes judaicos que estavam
claros para os judeus, mas não para os gentios? E porque Guilyana foi escrito
às 7 igrejas da Ásia de nomes gregos (Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes,
Filadélfia e Laodicéia)?
Até
os discípulos que foram dispersos chegaram a uma cidade aramea e pregaram aos
gregos (Atos 11:20).
“Alguns deles, porém, que
eram de Chipre e de Cirene e que foram até Antioquia, falavam também aos
gregos, anunciando-lhes o evangelho do Senhor Jesus.” (Atos 11:20).
Provas internas no Novo Testamento que este não foi escrito
diretamente aos judeus de sua época:
a) Epístolas com destinatários certos: as igrejas gentílicas
1. A Epístola de Paulo aos
Romanos
a)
Na sua apresentação não resta dúvidas que a carta foi dirigida aos gentios:
“Paulo, servo de Jesus
Cristo, chamado para ser apóstolo, separado para o evangelho de Deus...
"por intermédio de quem viemos a receber graça e apostolado por amor do
seu nome, para a obediência por fé, entre todos os gentios, de cujo número
sois também vós, chamados para serdes de Jesus Cristo. “Porque não
quero, irmãos, que ignoreis que, muitas vezes, me propus ir ter convosco (no
que tenho sido, até agora, impedido), para conseguir igualmente entre vós
algum fruto, como também entre os outros gentios.” (Romanos
1:1, 5, 6, 13) Outros: 10:1,2, etc.
b).
A carta de Paulo aos romanos não foi escrita aos judeus ou semitas que viviam
em Roma, pois Paulo fala dos judeus na terceira pessoa, logo não foi
dirigida a estes:
“São israelitas. Pertence-lhes
a adoção e também a glória, as alianças, a legislação, o culto e as promessas; deles
são os patriarcas, e também deles descende o Cristo, segundo a carne, o
qual é sobre todos, Deus bendito para todo o sempre. Amém!” (Romanos 9:4,5)
“Irmãos, a boa vontade do
meu coração e a minha súplica a Deus a favor deles são para que sejam
salvos. “Porque lhes dou
testemunho de que eles têm zelo por Deus, porém não com entendimento. “Porquanto, desconhecendo
a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria, não se sujeitaram
à que vem de Deus.” (Rom 10:1-3)
Ver
também 11:11-12
c)
Ainda Paulo aos romanos gentios:
“Dirijo-me a vós outros,
que sois gentios! Visto, pois, que eu sou apóstolo dos gentios, glorifico o meu
ministério, “para ver se, de algum modo, posso incitar à emulação os do meu
povo e salvar alguns deles.” (11:13, 14ss) E a seguir faz a famosa analogia
das oliveiras brava e natural, mas sempre falando dos gentios na 2ª pessoa e
dos judeus na 3ª pessoa (versos seguintes).
“Saudai Priscila e
Áquila, meus cooperadores em Cristo
Jesus, os quais pela minha vida arriscaram a sua própria cabeça; e isto lhes
agradeço, não somente eu, mas também todas as igrejas dos gentios” (16:3, 4). Se Paulo
sempre fala da "igreja dos gentios", e nunca "igreja
judaica", por que então lhes escreveria em hebraico ou aramaico se eles
entendiam perfeitamente o grego por ser uma língua internacional da época?
Embora
a Epístola seja escrita à Igreja que está em Roma, em sua maioria constituída
por gentios, não resta a menor dúvida que nesta igreja havia judeus convertidos
a Cristo, fato pelo qual Paulo também se dirigiu a estes:
“Se, porém, tu, que tens
por sobrenome judeu, e repousas na lei, e te glorias em Deus;
que
conheces a sua vontade e aprovas as coisas excelentes, sendo instruído na lei;...” (Rom 2:17-18ss),
etc..
2. A 2ª Epístola de Paulo aos
Coríntios:
“Paulo, apóstolo de
Cristo Jesus pela vontade de Deus, e o irmão Timóteo, à igreja de Deus que está
em Corinto e a todos os santos em toda a Acaia” [Grécia] (1:1)
3.
Epístola de Paulo aos Gálatas:
“Outrora, porém, não
conhecendo a Deus, servíeis a deuses que, por natureza, não o são” (4:8).
É
certo que a carta, embora destinada aos irmãos gálatas que outrora foram
idólatras, tem coisas escritas aos judeus e aos judaizantes que queriam
misturar o evangelho com os ritos judaicos. Mas não foi escrita diretamente aos
judeus da Galácia, pelo fato de o apóstolo Paulo dizer que estes “serviam a deuses que, por
natureza, não o são”, logo, dirigia-se aos gentios e não aos judeus.
4.
Epístola de Paulo aos Efésios:
“Portanto, lembrai-vos de
que, outrora, vós, gentios na carne, chamados incircuncisão por aqueles que se
intitulam circuncisos, na carne, por mãos humanas” (2:11)
“Por esta causa eu,
Paulo, sou o prisioneiro de Cristo Jesus, por amor de vós, gentios” (3:1).
b) Explicações desnecessárias de
costumes judaicos para judeus, mas não para os gentios:
Já discorremos sobre esse assunto no
final da primeira parte de nosso estudo sobre o porquê das explicações sobre
palavras e costumes judaicos:
Marcos 7:1-4
“Ora, reuniram-se a Jesus os fariseus e alguns escribas, vindos de
Jerusalém.
E, vendo que alguns dos discípulos dele
comiam pão com as mãos impuras, isto é, por lavar
(pois os fariseus e todos os judeus, observando
a tradição dos anciãos, não comem sem lavar cuidadosamente as mãos;
quando voltam da praça, não comem sem se
aspergirem (Gr.: batizarem); e há muitas outras coisas que receberam
para observar, como a lavagem (Gr.:
batismo) de copos, jarros e
vasos de metal e camas)”.
Ora, se o Novo Testamento tivesse sido
escrito originalmente para os judeus, não necessitaria de explicações sobre os
costumes judaicos, pois os judeus já estavam mais que familiarizados com eles,
mas não os leitores gentios do texto grego. E essas explicações aparecem em
todas os manuscritos semitas antigos e em traduções para o hebraico.
Poderíamos
ir de carta em carta mostrando que seus destinatários não eram judeus, mas
gentios de cultura grega (embora sem dúvida havia irmãos judeus entre eles),
mas creio que o que postei acima é suficiente para os que creem, mas sempre será insuficiente para os que não
creem.
Há
também vários outros textos, mas vamos ficar por aqui.
Conclusão
Não creio num original
semita, pois quando se disse isto pela primeira vez, pensava-se na pena de um
judeu escrevendo para judeus na língua dos judeus e que a Peshitta era uma
representante fiel desse tal original, e alguns defendem que ela é o tal
original.
Eu creio na preservação original, sim, pois onde houve
acréscimos e mudanças nos manuscritos gregos e hebraicos, o Senhor da História
preservou manuscritos mais antigos que foram achados posteriormente
(principalmente nos dois últimos séculos passados) e usados para mostrar e/ou
corrigir os textos tidos como representantes dos originais, mas que sofreram
pequenos acréscimos e/ou mudanças algumas vezes significativas como é o caso de
Devarim (Deuteronômio) 32:43 onde o NT grego, em Hebreus 1:6 faz uma
pequena citação conforme aquele texto da LXX tida por muitos estudiosos como um
acréscimo, mas que em 1948 foi confirmada sua autenticidade (e antiguidade) num
dos rolos do Mar Morto (4QDeut.q.).
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