A divisão das horas do dia nos tempos bíblicos
Na Bíblia a ideia primária da palavra DIA é em referência à parte clara que
vai do nascer ao pôr-do-sol, e NOITE é uma referência à parte escura que
vai do pôr-do-sol ao nascer do sol.
No início dos
tempos, o período de 24 horas era dividido em duas partes: Êrev (tarde) e Bôker (manhã). Érev começava ao
pôr-do-sol, ou conforme Gênesis 3:8, “viração do dia”, e terminava ao nascer do
sol, onde começava o Bôker. Até hoje os judeus usam a palavra ”êrev” como
referência à primeira parte da noite que vai depois do pôr-do-sol até por volta
das 22 horas, período em que usam a expressão “êrev tôv” (“boa noite”,
ao chegar) e “laila tôv” (“boa noite”, ao sair).
Depois, a parte
clara do dia (Bôker) começou a ser dividido, e o meio-dia era chamado “maior
calor do dia”, quando todos procuravam abrigo e faziam sua refeição (almoço) e
depois a sesta (Gênesis 18:1-4; 2 Samuel
4:5). Posteriormente essa hora passou a ser chamada de “meio-dia” (em hebraico:
צהרים
[TSOHORÁIM], plural de צהר [TSOHAR], que por sua vez procede
do verbo צהר [TSAHAR] = “reluzir”, mas que
também veio a significar espremer
azeite, extrair azeite pelo
fato de que nos primórdios o meio dia era a melhor hora para tal ato por causa
da oliva que estava “amaciada” pelo calor do meio-dia) - Gênesis
43:16, 25; 2 Samuel 4:5.
Já no primeiro
século d.C., os judeus já haviam adotado a contagem greco-romana de 12 horas para o
dia, e a ela Jesus fez referência:
“Respondeu Jesus: Não são doze as horas do dia? Se alguém
andar de dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo; mas, se andar de noite,
tropeça, porque nele não há luz.” (João 11:9, 10)
O senhor Jesus e os
escritores sagrados usaram a divisão greco-romana das horas do dia para
situarem acontecimentos importantes em suas narrativas como veremos logo mais.
As horas do dia
eram contadas desde a alvorada (por volta das seis da manhã) até o pôr-do-sol
(por volta das seis da tarde) e eram divididas em doze partes, sendo três as
principais entre o nascer do sol (primeira hora) e o poente (duodécima
hora): hora terceira (pro volta das nove horas – Mateus
20:3; Marcos 15:25; Atos 2:15), hora
sexta (pro volta do meio-dia – Mateus 20:5; 27:45; João 4:6;
19:14; Atos 10:9) e hora nona (por volta das três da tarde – Mateus
27:45, 46; Atos 3:1; 10:3, 30).
Mas, quando havia a
necessidade de se dar com mais exatidão a hora, as outras eram citadas, como
por exemplo, o horário da cura do servo do oficial romano: hora sétima (13:00 hs) – João 4:49-53 – e hora
undécima, na narração da parábola dos trabalhadores da vinha (Mateus 20:6,
9). Nesta parábola o Senhor faz referência às várias horas do dia claro:
indiretamente à primeira hora (vs. 1-2), terceira hora (vs. 3-4), hora sexta (v. 5) e hora undécima (vs. 6 e 9) e o cair da tarde (hora duodécima - v. 8).
No dia da
crucificação do Senhor as três principais horas são dadas: a hora da
crucificação: hora terceira (Marcos 15:25) e o período das trevas
sobre toda a terra: hora sexta e hora
nona (vs. 33, 34).
Logicamente essas
horas não eram exatas, mas aproximadas, pois a duração dos dias variava de
acordo com a época do ano. (Mateus 20:3, 5; 27:45, 46; Marcos
15:25, 33, 34; Lucas 23:44; João 19:14; Atos 10:3, 9, 30)
Divisões Noturnas
No tempo do Antigo
Testamento os judeus dividiam a noite em três vigílias, a saber:
1 - Vigília da noite (Salmo 63:6) ou princípio das vigílias (Lamentações 2:19) que ia desde o sol posto até às 10
horas da noite;
2 - Vigília média ou da meia noite (Juízes 7:19) que principiava às 10
horas da noite e prolongava-se até às duas horas da madrugada;
3- Vigília da manhã (1 Samuel 11:11) que ia desde as duas
horas da manhã até ao nascer do sol.
Em tempos
posteriores, a noite começou a ser dividida, segundo o costume dos romanos, em
quatro vigílias (desde as 6 horas da tarde às 6 horas da manhã), de três horas
cada uma (Mt 14.25; Lc 12.38). Em Marcos 13.35, as quatro vigílias são
designadas pelo nome especial de cada uma.
Assim como
aconteceu à divisão das horas do dia, a divisão romana das horas da noite foi
também adotada pelos judeus por estarem sob o domínio de Roma, mas também não
havia nada de errado com isso, muito pelo contrário, pois havia mais exatidão
na contagem das horas.
Assim sendo, a noite
foi também dividida em doze horas, mas as suas partes principais eram
subdivididas em quatro vigílias (de três horas cada uma) em vez das três
vigílias anteriormente usadas pelos judeus do tempo do Antigo Testamento. O
Senhor Jesus fez também referência a essa divisão romana ao falar de sua vinda:
“Vigiai, pois, porque não sabeis quando
virá o dono da casa: se à tarde,
se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã” (Marcos 13:35).
A primeira vigília
(latim: prima vigilia) era
chamada de “tarde”, “tardinha” que em grego é: οψε (OPSE) que dá a idéia
de “perto do fim do dia”, “ao anoitecer” e ia por volta do pôr-do-sol até
cerca das nove da noite (nosso horário);
A segunda vigília
(latim: secunda vigilia)
era chamada de “meia-noite” que em grego é: μεσονυκτιον (MESONYKTION) e
começava por volta das nove horas e terminava à meia-noite;
A terceira vigília
(latim: tertia vigilia)
era chamada de “canto do galo” que em grego é: αλεκτοροφωνια (ALEKTOROFÔNIA)
e ia da “meia-noite” a cerca das três horas. O Senhor Jesus fez referência ao
cantar do galo ao dizer a Pedro que antes que o galo cantasse, naquela mesma noite
este o negaria três vezes. Mateus 26:34; Lucas 22:34. E de fato aconteceu nas
primeiras horas da madrugada (Marcos 14:68, 72.)
E a quarta e última
vigília (latim: quarta vigilia)
era chamada de “cedo”, isto é, “cedo de manhã”, que em grego é: προι (PROI)
findava na aurora, por volta das seis horas. Foi na quarta vigília da noite que
o senhor Jesus andou sobre as águas ao encontro dos seus discípulos que estavam
no barco (Marcos 14:25). Foi no término deste horário que o Senhor, depois de
ter pernoitado na cidade de Betânia ao dirigir-se de volta a Jerusalém, no
caminho, teve fome e encontrou uma figueira sem frutos e a amaldiçoou a fim de
dar uma lição de fé aos seus discípulos. (Mateus 21:17-22). Foi também nesta
vigília que o Senhor ressuscitou de entre os mortos no primeiro dia da semana.
(Marcos 16:2). Também: João
18:28.
Como foi dito, além das quatro vigílias, também estava em uso uma contagem de 12 horas para a noite, mas pelo que sei até agora, só há uma referência a uma parte dela no Novo Testamento, quando o comandante militar Cláudio Lísias mandou que dois de seus centuriões aprontassem um destacamento de 470 soldados a fim de escoltar o apóstolo Paulo em segurança até Cesaréia na “hora terceira da noite” (21:00 hs.) – Atos 23:23, 24.
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𝓛𝓾𝓲𝓼 𝓐𝓷𝓽𝓸𝓷𝓲𝓸 𝓒𝓪𝓬𝓮𝓻𝓮𝓰𝓮✍️ܠܘܝܣ
cacerege@gmail.com
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Outros estudos já postados:
01- O Novo Testamento NÃO Foi Escrito em Hebraico e/ou Aramaico
02- O espiritismo segundo [alguns] “evangélicos”
03- Adultério do Coração
04- Santa Ceia: vinho ou suco de uva?
05- O Inferno
06- O Que a Bíblia Diz Sobre a Idolatria
07- Deuterocanônicos ou Apócrifos?
08- A divisão das horas do dia nos tempos bíblicos
09- O dia do Senhor: Sábado ou Domingo?
10- 30 Razões Porque Não Guardo o Sábado
11- Deus e deuses
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13- O Verbo era um deus?
14- A Divindade de Cristo negada entre colchetes
15- Cruz ou estaca de tortura?
16- YHWH – Um Nome que será esquecido para sempre
17- Alma, corpo e espírito
18- A Peshitta confirma o Novo Testamento grego – 01- CAMELO ou CORDA?
19- A Peshitta confirma o Novo Testamento grego – 02- LEPROSO ou FAZEDOR DE JARROS?
20- PARAÍSO: HOJE ou UM DIA? (Lucas 23:43)
21- Adultério Virtual
22- KeNUMÁ e os modalistas nazarenos
23- A Virgem Que Concebeu
24- A História do Universo (O Livro de Melquisedeque)
25- O Tetragrama na Septuaginta Grega (LXX)
26- Os sabatistas e judaizantes "pira" - parte 1
27- A transição da escrita Páleo-hebraica para a Aramaica-assíria nas Escrituras
28- Qual o dia da morte de Jesus?
29- Os sabatistas e judaizantes "pira" - parte 2
30- As Três Testemunhas da Aspersão
31- Os sabatistas e judaizantes "pira" - parte 2
32- Matar e Assassinar em Hebraico
33- Memra/Davar nos Targuns Aramaicos – parte-1
34- Memra/Davar nos Targuns Aramaicos – parte-2
35- Casamento: Instituição Divina (Ideologia de Gênesis)
36- O Servo Sofredor de Isaías 53 na visão judaica, antiga e moderna
37- Chamar o arco celeste de ARCO-ÍRIS é reverenciar uma entidade pagã?
38- E todos os anjos de Deus o ADOREM
39- O Grande Deus e Salvador Jesus Cristo
40- Os Gigantes da Antiguidade
Obs.: É permitido a cópia para republicações, desde que cite o autor e as respectivas fontes principais e intermediária.
Por: Luís Antônio Lima dos Remédios
Luís - ܠܘܝܣ- לואיס - 𐤋𐤅𐤀𐤉𐤎 - Ⲗⲟⲩⲓⲥ - Λουίς✍️
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7 comentários:
Excelente ! Ajudou muito a mim ! Gloria a Deus pela sua vida !
Qual é a sua congregaçao e o seu grau de formação? Por gentileza nao é afronta misericordia so pea saber a fonte de onde estou estudando. Se porventura nao quiser se manifestar grato desde já. A paz do senhor Jesus.
Amen amado em Cristo Jesus
Agradeço muito por essa oportuna e esclarecedora postagem. Que Deus lhe abençoe!
Muito bom mesmo, explicativo e satisfatório.
Amei lindo zap 31.982977630
A paz. Achei seu trabalho muito bom, completo . Parabéns.
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